segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Espelho

Não gosto de me sentir assim, estranho...
Meu coração aperta em me faz sentir nauseas.
Meus olhos enchem de lágrimas, minha respiração tende a parar.
Não gosto quando fico deprimido. As vezes a morte parece melhor.
Mas não, sou contra o suicídio... Tento ficar melhor rapidamente.
Não funciona. Fico catatônico... Seguido de um lampejo de realidade.
Estou sozinho. Sempre.
As vezes faço piadas pra ver se melhora. Não adianta. Dói muito.
Fico pensando se é incapacidade de amar ou incapacidade de entrega.
Mas pensar dói também.
Será que estou lendo muitos romances? Muitos finais felizes?
Deveria partir para o terror?
Não consigo me abrir para algumas pessoas. Amigos talvez.
Pretendente nunca. Mas a sensação de que ninguem me conhece de verdade é real.
É como se eu vivesse por trás de uma máscara. Que nem eu mesmo identifico o que é meu e o que é do outro.
O outro que eu tive que inventar. O outro que é engraçado e sociável, faz piadas e ri muito.
O outro é meio bobo, mas todos parecem gostar dele. é bom e ruim. É certamente um incentivo a continuar assim. Me faz sentir aceito. O outro não se importa com o que os outros pensam sobre suas roupas. Ele é desorganizado e fútil. As vezes doi dizer isso também. porque as pessoas não gostam de pessoas inteligentes. Gostam do supérfluo. Da capa. Do corpo.
Aprendi a ser burro. Ou melhor, aprendi a me fingir de burro. Enquanto meu cérebro funciona a mil quilometros por segundo.... As pessoas me acham desligado e sem graça. Mais um na multidão apenas. Não gosto muito de jogar conversa fora. Mas o outro gosta. Eu prefiro a objetividade das coisas. Porque sair quando não há nada para falar?
O outro curte a independência e é extremamente egoista. Não liga para a solidão, afinal ele é individualista. Gosta de coisas caras e requintadas....
As vezes me perco do que eu quero realmente falar. É de mim, e não do outro. É a outra parte de mim que fica presa dentro dessa carcaça do outro. Que quase ninguém conhece, mas que clama por perdão, que chora da agonia de estar sempre só... Que precisa que alguém o ame. Que alguém o mime. Que ainda tenta acreditar no amor, que, perversamente, o Outro mostra o quanto de danos pode ter amar e compartilhar. É como uma queda de braço eterna. O que Eu quero e o que Ele quer. Sem vitórias de guerra. Apenas as batalhas podem ser ganhas.
Eu quero e tento amar e me deixar ser amado, mas ele não deixa, coloca tantos empecilhos em nossa cabeça... Tantos temores.... Tantas inseguranças...
Mas, coitado.... uma coisa eu sei bem... Ele lembra o que aconteceu no passado, enquanto eu não tenho nem idéia. ele me protegeu das lembranças que poderiam me magoar.
Ele tenta me fazer feliz sozinho, para não nos expor, mas ele não consegue.... Ele fica irritadiço e frustrado... Mas ele é forte e consegue me conter.
Quando olho pra ele, com aquelas sobrancelhas irregulares arqueadas em constante indagação... Aquele olhar frio e calculista, aquele olhar de arredio. Com sua voz estranha, com suas ironias e sarcasmos, simplesmente para me defender. Porque ele não pode me deixar desamparado... Ele me vê como sou... transparente e doce... vulnerável...inocente e ingênuo...
E, de repente rachamos o espelho em duas partes. E apesar de sermos apenas um, cada qual tem a sua vez de agir.
Mas, não se enganem, o coração é o mesmo. E o que um sente o outro também sente. Apenas as formas de reação são diferentes.... Um pela carência do amor e o outro pelo excesso de mágoa.